Não preciso dizer que o governo Stalinista foi de longe algo horrendo e que manchou eternamente o Comunismo; tal assunto já foi até abordado em posts anteriores. Mas achei conveniente escrever um relato, obviamente verídico, de uma das centenas de milhares de vítimas quando os atos do governo stalinista foram divulgados à imprensa e ao mundo, tal ato em auge na década de 80, quando todas as ações, documentos e relatos foram divulgados (muito tardiamente, óbvio). Assim ficou claro ao mundo o ultraje de Stalin de propagar a dizimação de sua própria sociedade. Quando tais relatos foram sendo divulgados pelo próprio governo Soviético, milhões de vítimas inundaram a imprenssa com relatos pessoais e lembranças de vítimas do Stalinismo. Tais atrocidades cometidas chegam em seu auge, na minha opinião, quando logo após a 2° Guerra Mundial, com os relatos do holocausto Nazista contra os Judeus comandado por Hitler foram revelados, toda a comunidade judáica de Moscou e Leningrado foram alvejadas e seus líderes dizimados. Tal ato não é divulgado tanto assim em livros etc não? As principais atrocidades contra a humanidade não são divulgados pois, de alguma forma, podem acarretar em problemas para os "poderosos" do mundo; não estou defendeno de nenhuma maneira o genocídio Judeu pelos nazistas, apenas alertando que, infelizmente, houve atos piores. Tal relato foi em especial escolhido por mim pois também foi um relato surpreendente de uma das vítimas, poi notou-se que tinham cerca de 10 mil cartas semelhantes, oque mais tarde foi descoberto que todas eram da mesma mulher, e não uma mulher poderosa ou politicamente ativa, mas sim uma mulher simples, do povo. Foi relatado na "Literaturnaia Gazeta" de 23 de Dezembro de 1987.
"Sou uma leitora atenta de vocês. Tenho lido seu jornal com interesse por longo tempo. Recentemente muito foi escrito sobre coisas que haviam sido esquecidas; li alguns artigos, e meu coração sangra.Recordo minha vida e a vida de meu marido. Nossa geração atravessou a difícil década de 1930, depois os anos da Guerra e em seguida também os difíceis anos pós-guerra. Agora escreve-se abertamente sobre as mortes de Kirov, Tukhatchevski, Yakir e outras vítimas inocentes. Isso é compreencível: o destino de grandes pessoas está a vista do público. Mas se mesmo as pessoas grandes não sobreviveram, oque pode ser dito sobre pessoas comuns?
Meu marido, A.I Bogomolov, era exatamente uma pessoa ordinária desse tipo. Foi preso após a guerra finlandesa, condenado a fuzilamento, depois foi condenado a dez anos e mais cinco de privação de direitos. PAssou 4 anos num campo do norte em condições pavorosas. Deposi houve outra prisão, outra acusação, quinze meses na tridsatka, em uma sela subterrânea ali no norte, doze anos no total. Sua saúde foi arruinada para sempre, e seus pulmões ficaram ulcerados pelo frio. Após o campo viveu em Syktyvkar.
Encontrei meu mariod após 42 anos de separação A pultima vez que o havia visto foi em 1940, quando levei meu filho recem-nascdo a visitá-lo numa prisão de trânsito em Leningrado. Nos encontramos... Minha impressão foi terrível, mas decidimos não nos separar. Sua ulher havia morido, meu marido havia morrido, e nossos filhos haviam crescidos. Assim, por cinco anos, fui médica, irmã, enfermeira e amiga. A saúde de meu marido está completamente arruinada, ele trabalhou até a idade de 74 anos. Vivemos em meu quarto num apartamneto comunal, no quarto ao lado há uma pessoa mentalmente doente. Há rixas, disputas de gritos, e a mulher da porta ao lado envolve-se em brigas corporais. Foi-nos recusado um apartamento separado - temos mais de 6 metros por pessoa.
Mas é isto que desejo lhes ocntar. Em 1955, meu marido foi reabilitado com relação a sua segunda condenação, enquanto recebemos a reabilitação pela primeira condenação apenas em 1985 quando eu própria comecei a perseguir o assunto e o Tribunal Militar do Distrito de Leningrado reconsiderou o seu caso de 1940 e também anulou o veredicto "por falta de corpo de delito". Meu marido recebeu 270 rublos apenas depois de sua reabilitação - o salário de dois meses que tinha pelo posto que tinha antes da guerra finlandesa. Por todos os doze anos em campos do norte, pelos interrogatórios, pelo trabalho exaustivo nas minas e cortando madeira - um total de 270 rublos! Toda vez que eu me inquiria, diziam-me que essa é a lei e se referiam ao estatuto de 1955. Os direitos de meu marido como participante da guerra foram restaurados apenas depois da última reabilitação. Ele agora é um inválido da categoria um, está cego, eu leio os artigos para ele, e ele chora. Recebe um apenção de 113 rublos - isto inclui 15 rublos que recebe como inválido da categoria um "para enfermagem". Mas eu escrevi e continuarei a escrever a todos os corpos oficiais porque penso que tudo isso é injusto.Enquanto ele viver, e eu tiver força, escreverei sobre como pessoas como meu marido não receberam benefícios pra compensar, por poucos que fossem, tudo que sofreram. Elas não falharam para com sua pátria, mas suas vidas foram arruinadas, as vidas de suas famílias foram arruinadas, elas foram privadas do respeito da sociedade e não receberam se quer o direito de lutar, de se tornar honrados inválidos ou veteranos de guerra e receber congratulações festivas!
Não estou lhes pedindo para me ajudarem a obter um apartamento. Somos pessoas idosas, e mesmo se nos ajudarem a obter um apartamneto separado, será tarde demais para nós. Meu marido está com 82 anos. Recentemente sofreu um derrame. Mas lhes imploro para ajudarem todos aqueles que também eforam incapazes de defender-se, já que "o veredicto não era sujeito à apelação".
Hoje transmitiram pelo rádio o poema de Tvardovski "Direito de Recordação". Eu tremi e as lágrimas fuíram dos olhos cegos de meu marido. Ele sempre foi trabalhador, um membro do Komsomol, trabalhou na Kuznetskstroy, em Balcach, e sempre teve as mãos calejadas. Agora não pode fazer nada, naturalmente, mas sente o novo tempo e acredita que este é realmente revolucionário. Hoje muita coisa está mudando e será injusto que pessoas que sofreram tão terrivelmente desapareçam de vista, quando tanta atenção está sedo dispensada a veteranos de guerra e de trabalho. Porque não rever o estatuto de 1955? Porque as pessoas que sofreram humilhação e choque não desfrutam de qualquer benefícios - sejam materias ou morais? Devem ser culpados pelo fato de terem sido incapazes de conquistá-los?
Imploro-lhes que me ajudem e que ajudem àqueles que ainda podem ser ajudados. memso agora vocês, às vezes, ouvem pessoas contarem sobre tal e tal pessoa, que ela foi um inimigo do povo e que não é por nada que esteve atrás das grades. Não é uma questão de dinheiro - o ponto é que a sociedade devia estar consciente de seu dever para com as pessoas.
Valentina Znovevna Gromova, Leningrado"
Não preciso dizer mais nada além de que se todos tivessem um pouco, apenas parte da garra, bom senso, consciência doque é justo, perseverança e força que essa mulher teve ao lutar de forma autruísta; não só pelos seus direitos e de seu marido, mas de todos que sofreram algum tipo de injustiça, seriamos uma sociedade digna. Que o apelo dessa grande mulher ecoe não só em sua época, pois tal relato é atemporal, mas em todos os anos e pelo mundo; onde houver injustiça, que ecoe tal apelo em prol dos que sofrem injustiça. Valentina Znovevna Gromova.